A reforma tributária é um assunto que vem sendo o grande centro das discussões entre empresários, profissionais de contabilidade e o próprio governo.
Após anos de debates, o Brasil caminha para reconfigurar o sistema de cobrança de impostos, visando maior simplificação, redução de litígios e estímulo ao crescimento econômico.
Entretanto, há inúmeros detalhes a serem considerados, e entender as principais propostas e impactos é fundamental para quem deseja se planejar e não ser pego de surpresa.
Nos últimos meses, o Congresso Nacional vem analisando minuciosamente emendas e propostas de reforma tributária que devem alterar, de modo significativo, a forma como empresas e cidadãos recolhem tributos.
Para você que quer se antecipar às mudanças e aproveitar as oportunidades de um novo panorama fiscal, reunimos neste artigo as informações mais relevantes e atualizadas sobre o assunto. Acompanhe a seguir!
Por que o Brasil precisa de uma reforma tributária?
O Brasil tem um sistema tributário complexo e oneroso, marcado pela alta carga de impostos e por uma série de regras que variam entre União, estados e municípios.
De acordo com dados recentes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país ocupa posição de destaque no ranking de horas gastas pelas empresas para cumprir obrigações fiscais. Esse cenário cria:
- Burocracia excessiva: Muitas empresas gastam recursos significativos para entender, interpretar e cumprir legislações que frequentemente se sobrepõem ou até se contradizem.
- Litígios constantes: Conflitos e questionamentos junto aos fiscos municipais, estaduais e federais acabam entupindo o Judiciário com ações que se arrastam por anos.
- Baixa competitividade: Investidores e empreendedores se deparam com incertezas e custos elevados, dificultando o crescimento econômico e a geração de empregos.
A reforma tributária almeja enfrentar esses problemas, propondo maior racionalidade na cobrança de tributos e simplificando obrigações para cidadãos e empresas.
Como a reforma tributária deve impactar as empresas
De acordo com especialistas no assunto, os principais impactos da reforma tributária sobre as empresas devem ser os seguintes:
Fim da guerra fiscal: Ao unificar tributos e padronizar alíquotas, estados e municípios perdem parte do poder de conceder incentivos fiscais específicos.
Sendo assim, empresas deixam de escolher localidade apenas pelos benefícios tributários, estimulando uma competição mais saudável e baseada em infraestrutura e mão de obra.
Simplicidade e economia de tempo: Com a redução do número de obrigações acessórias e a adoção de uma base unificada de cálculo, empresas podem economizar horas e reduzir erros no recolhimento de impostos.
Transição: Durante alguns anos, teremos um período de transição, onde as empresas vão precisar se adaptar as mudanças na legislação, exigindo maior cuidado para não cair em irregularidades.
Novo modelo de créditos: Atualmente, PIS e COFINS já adotam regras de crédito, mas ICMS e ISS têm legislações fragmentadas. Com o IBS (tributo unificado), a expectativa é de um modelo simplificado de crédito, evitando cumulatividade.
Quais os principais desafios para implantar a reforma?
Embora a reforma tributária seja amplamente apoiada pelo setor produtivo, alguns desafios se destacam:
Negociação política: É preciso conciliar interesses de União, estados e municípios, que possuem distintas expectativas de arrecadação. Governadores e prefeitos temem perder autonomia e receitas.
Transição: A mudança gradual para um novo sistema pode levar vários anos, exigindo um esforço contínuo de adaptação pelas empresas e pelos fiscos.
Alíquota final: Se a unificação levar a uma alíquota única alta, pode haver impacto negativo no preço final ao consumidor. Encontra-se o dilema de simplificar sem elevar a carga total de impostos.
Resistência setorial: Certos segmentos, temendo perda de vantagens fiscais específicas, podem pressionar pela manutenção de regimes especiais.
Quais são as principais mudanças previstas com a reforma tributária?
Com a reforma tributária, o Brasil passará a ter dois impostos principais:
- CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), unificando tributos federais;
- IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), unificando ICMS e ISS.
A reforma contempla também a criação do Imposto Seletivo (IS), federal, de caráter estritamente regulatório, para desestimular o consumo de produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.
Além disso, o modelo de cobrança do CBS e do IBS, vão seguir um modelo conhecido como IVA, onde cada elo da cadeia produtiva paga impostos apenas sobre o valor que agregou ao produto, evitando a bitributação.
Veja esse exemplo fornecido pelo Ministério da Fazenda:
No processo de fabricação e comercialização de uma CAMISA acontecem as seguintes etapas, supondo um IVA com alíquota de 25%, sem regimes favorecidos:
1.Produtor Rural: O produtor rural vende o algodão por R$ 40,00 (para fins didáticos, supõe-se que o produtor se algodão não adquiriu insumos), mais o IVA de R$ 10,00.
IVA = R$ 10,00
2.Indústria de Tecelagem: Ao comprar do produtor do algodão, a indústria de tecelagem paga R$ 50,00.
Por sua vez, a indústria então transforma o algodão em tecido, que vende por R$ 60,00,
mais o IVA de R$ 15,00.
Entretanto, ao recolher o tributo, a tecelagem desconta o valor de R$ 10,00 do IVA que pagou na aquisição do algodão, de modo a somente pagar ao fisco a diferença de R$ 5,00.
- (+) Débito = R$ 15,00
- (-) Crédito = R$ 10,00
- (=) IVA = R$ 5,00
3.Fábrica de Roupas: Ao comprar o tecido, a fábrica de roupas paga R$ 75,00. A fábrica então transforma o tecido numa camisa, pela qual cobrará R$ 100,00, mais o IVA de R$ 25,00.
Entretanto, ao recolher o imposto para o fisco, a fábrica de roupas desconta o valor de R$ 15,00 do IVA pago na aquisição do tecido, de modo a somente pagar ao fisco o valor de R$ 10,00.
- (-) Débito = R$ 25,00
- (+) Crédito = R$ 15,00
- (=) IVA = R$ 10,00
4.Loja de Roupas: A loja de roupas compra a camisa da fábrica por R$ 125,00 e a coloca à venda por R$ 200,00, mais o IVA de R$ 50,00.
Entretanto, ao recolher o imposto para o fisco, o dono da loja desconta o valor de R$ 25,00 do IVA pago na aquisição da camisa, de modo a somente pagar ao fisco a diferença de R$ 25,00.
- (-) Débito = R$ 50,00
- (+) Crédito = R$ 25,00
- (=) IVA = R$ 25,00
5.Consumidor: Por fim, o consumidor final pagará à loja o valor total de R$ 250,00, que
corresponde justamente ao preço de R$ 200,00 da camisa, mais o IVA de R$ 50,00.
- Preço sem imposto: R$ 200,00
- Preço total: R$ 250,00
Resumo: O valor R$ 50,00 do IVA pago pelo consumidor final equivale à soma: R$ 10,00 recolhidos pelo produtor rural + R$ 5,00 recolhidos pela tecelagem + R$ 10,00 recolhidos pela fábrica de roupas + R$ 25,00 recolhidos pela loja.
Além disso, vale destacar que apesar da mudança na forma de apuração dos impostos, o fisco garante que não haverá aumento nos tributos pagos atualmente pelas empresas.
Conclusão: a reforma tributária e o futuro dos negócios
A reforma tributária representa uma oportunidade de tornar o Brasil mais simples, competitivo e atrativo para investimentos, embora exija, esforços de adaptação.
Para as empresas, não se trata apenas de cumprir uma legislação diferente, mas de repensar estratégias, aproveitar a redução de burocracias e focar no crescimento.
Além disso, quem se antecipa, estudando cenários e mantendo uma contabilidade atualizada, sai na frente quando as mudanças chegarem.
O momento atual de discussão é ideal para se informar, planejar e posicionar o negócio de forma a extrair os benefícios de um sistema tributário reformulado.
Buscando apoio para entender e se preparar para a reforma tributária?
Conheça os serviços do Eu Contador e conte com uma equipe especializada para guiar você durante essa transição, garantindo conformidade, aproveitamento de benefícios legais e maior tranquilidade na gestão do seu negócio.